Vermelho Carmim

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Ato Público de 1980: a origem do
slogan 
Quem Ama Não Mata’

Cinco anos depois da realização, no DCE da UFMG, do seminário “Mulher Brasileira em Debate”, chega-se à década de 80 com o assassinato de duas mulheres em Belo Horizonte. Isso provoca a organização do ato público em que nasce o slogan “QuemAmaNãoMata”. Veja nessa entrevista de Teresa Cristina de Paula Mota, o que relata a coordenadora deste movimento social, jornalista e profa. Dra. Mirian Chrystus de Melo e Silva.

Teresa Cristina (TC): Qual foi a sua participação no Ato da Igreja São José, em 18/08/1980?

Mirian Chrystus (MC): Juntamente com duas profissionais do telejornalismo da TV Globo (onde eu era repórter), Antonieta Goulart (chefe de reportagem) e Dagmar Trindade (repórter), eu fui a criadora e uma das organizadoras desse Ato e autora do Manifesto das Mineiras. Eduardo Simbalista, editor regional da Globo Minas, incentivou e apoiou. Aliás, foi ele que determinou o horário, 18 horas, para dar tempo de entrar no Jornal Nacional (a transmissão era via satélite, com minutos alugados). O Ato foi um evento de caráter jornalístico, planejado para entrar nas reportagens da Globo Minas, sucursal mineira de telejornalismo da Globo, e entrar em rede nacional. Sucursais entrar em rede nacional fazia parte de uma luta constante diária. Entrar no JN sempre foi um sinal de prestígio, disputado cotidianamente.

O Ato da Igreja São José foi pensado estrategicamente por mulheres jornalistas, pesquisadoras da UFMG, jovens universitárias de várias áreas, com uma ação voltada para a mídia, levando em conta critérios de notíciabilidade: o inusitado (atos públicos na ditadura eram uma novidade política), mulheres se manifestando, a motivação do Ato (os crimes perpetrados por maridos que haviam se casado e feito juras no altar), a estética do Ato, o cenário ( escadarias, adro, da igreja matriz da capital).

(TC): Como foi que tudo aconteceu?

 

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(Foto Fernando Rabelo)

(MC): Nós três cobrimos os assassinatos de Maria Regina Souza Rocha e Heloísa Ballesteros por seus respectivos maridos no espaço temporal de duas semanas, julho e agosto de 1980. Como mulheres, ficamos muito indignadas. Assim, além de caprichar na cobertura, tivemos a ideia de fazer um Ato Público. Junto com um grupo grande, demos várias entrevistas e  a ideia logo se espalhou – a imprensa, que deu muita cobertura. Foi uma intensa divulgação na mídia nos dez dias que antecederam a manifestação. Em entrevistas eu explicava a motivação do Ato, anunciava a necessidade de criação do Centro de Defesa da Mulher, pedia que as pessoas levassem flores no dia (está tudo registrado nos jornais da época)

(TC): Houve muita participação de estudantes, professores e universitários?

(MC): Sim, isso é muito importante. Havia uma indignação no ar. Aconteceram reuniões de estudantes e professores na PUC e na UFMG, antecedendo e preparando o Ato. Foi tudo muito rápido: 10 dias de discussão, preparação e organização do Ato. Houve também muita espontaneidade.

(TC): Durante os dias que antecederam o Ato houve uma intensa mobilização. E o surgimento do slogan Quem Ama Não Mata, como aconteceu?

(MC): Alguns dias antes, apareceu uma pichação em uma parede do Colégio Pio XII, um dos mais tradicionais de Belo Horizonte: “Se, se ama não se mata. ” Fui encarregada de cobrir essa manifestação. Fiz essa matéria para a TV Globo sem o depoimento das freiras, que, dias depois, cobriram a frase com tinta. Era uma pichação rústica, inclusive com essa vírgula estranha. Com o tempo, dias, tornou-se “Quem Ama Não Mata“, mais sintética, com um som mais agradável. A original, anônima era muito sibilante. Na mesma época surgiram outras pichações, mais próximas de uma estética do grafite. Me lembro de uma, num muro do bairro Serra: dois triângulos, o maior representando uma mãe, e outro menorzinho a filha, dialogam através de balões, como nas HQ. A filha triângulo pergunta para a mãe triângulo: _Mãe o que é orgasmo? _Não sei minha filha, pergunta para o seu pai.

Enfim, havia algo no ar. O interessante é que ao longo desses 40 anos, várias pessoas se declararam autoras do slogan “Quem Ama Não Mata”, um dos mais belos do feminismo contemporâneo, universal, que expressa uma utopia, a do amor gentil, nasceu anonimamente num muro de um colégio tradicional, provavelmente de madrugada.

E nesse anonimato reside sua força e beleza, porque expressa uma indignação social pela morte de duas mulheres pelos seus companheiros, os mesmos que elas um dia amaram e eram pais de seus filhos.

(TC): E no dia, como foi?

(MC): Eu fui trabalhar normalmente na Globo Minas e, ao final de tarde, fui ler o Manifesto das Mineiras, que havia redigido um dia antes. Designei Ana Lúcia Gazzola para ocupar o microfone de 4 ou 5 da tarde, estimulando as pessoas a comparecer. Alguns convidados se sucederam ao microfone: Maria José Campos, da Liga ou Ação Católica, Adélia Prado, Helena Grecco, Deputado Genival Tourinho (representando Vânia Bambirra, que estava no México), Celina Albano, professora da UFMG, recém-chegada da Inglaterra, uma feminista do Rio, (não me lembro o nome).

Naquele momento, não tínhamos a menor noção de que estávamos participando da História, colocando na agenda da mídia nacional a questão da violência contra as mulheres. Não contratamos fotógrafo, não pedimos uma foto sequer aos fotógrafos presentes, quase todos nossos companheiros de profissão.

(TC): Você, ao longo do tempo, tem frisado que foi um ato político-estético. O que significa isso?

(MC): Sempre tive a noção de que as ideias se espraiam através da razão, mas também pela emoção e esta pode ser alcançada pela estética, não apenas pelo discurso racional. Daí eu ter pensado em poemas para tratar da questão da violência contra as mulheres, não só discursos: um de Beth Fleury, interpretado por ela, que alerta serem as mulheres  vasos, jarros, que de tristeza, “não demoram a derramar”, e o da poeta Suzane Morais, criado a meu pedido, interpretado pela jornalista Dinorah Carmo, que pede em um tom crescendo, Aves Marias por todas as mulheres mortas, seus sonhos “de amor e de nuvem”. O cenário também foi levado em conta: o imponente adro da Igreja São José, com mulheres portando velas.

Eliana Stefani e Maria Baeza representam o Centro de Defesa dos Direitos da Mulher à frente da passeata na Praça Sete, em Belo Horizonte

Primeira passeata de mulheres em Minas

Vigor no feminismo da segunda onda

Por Teresa Cristina de Paula Mota e Beth Fleury

O fotógrafo Marcelo Pinheiro Martins (1), então estudante de História da Fafich-UFMG, ofereceu ao site as únicas fotos de que se tem notícia da primeira passeata feminista de Minas. Ocorrida em Belo Horizonte em 1983, foi proposta por duas estudantes de pós-graduação e uma professora da Universidade Federal de Minas Gerais.

Depois do primeiro seminário feminista acontecido em 1975 (2), em Belo Horizonte, do ato público de 1980 (3) e da criação do CDM (4) ou Centro de Defesa dos Direitos da Mulher (cujas atividades seguiram até 1985), outro marco das ações de mulheres mineiras foi esta manifestação. Na verdade, em 1983 acontecia esta que foi a primeira passeata feminista de Minas Gerais, motivada pela celebração do dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher – proclamado pela ONU em 1975 (5). Relata Marcelo Pinheiro que Sandra Starling (6), Dirlene Marques (7) e Celina Albano (8), ali no bairro do Santo Antônio, na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich-UFMG), lideraram a iniciativa de organizar esta manifestação.

Estudantes, pesquisadoras(es) e professoras(es) desceram a conhecida rua Carangola, no Santo Antônio, bairro de Belo Horizonte, onde funcionou por quase 30 anos esta faculdade, espaço em que interagiram tantas(os) estudantes e mestres que queriam mudar o mundo. A Fafich-UFMG ou Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (fundada em 1936) funcionou no local até ser transferida para o Campus da UFMG, em 1990, na Pampulha.  No percurso, o grupo seguiu ladeando o Minas Tênis Clube, passando pela Praça da Liberdade, agitando suas faixas e cartazes. As manifestantes se dirigiam à concentração no centro de Belo Horizonte. “No início eram apenas umas 50 pessoas. Mas, ao entrar na Avenida Afonso Pena, as adesões foram aumentando, com cartazes abertos, levados pelas militantes”, relembra Pinheiro. Ao atingir a Praça Sete, ponto central, onde ativistas até hoje se encontram na cidade, a manifestação chegou a seu ápice, mostrando volume surpreendente e apontando que em Minas já se havia ultrapassado o momento inicial da segunda onda do feminismo (9).

No calor das movimentações e criação de agendas feministas em todo o país, o movimento havia sido pensado nas dependências da faculdade onde muitas das ativistas estudavam, davam aulas e realizavam suas pesquisas científicas. Pinheiro era um fotógrafo iniciante e, Sandra Starling, sua professora e amiga, o convidou para fotografar a passeata – oportunidade que Marcelo teve para documentar evento inédito. Houve uma volta na Praça Sete, em torno do Pirulito, e retorno pela av. Afonso Pena até o cruzamento em frente a Igreja São José, onde as principais lideranças concederam entrevistas a alguns profissionais de imprensa presentes antes da dispersão.

A partir de suas próprias fotos, Marcelo Pinheiro reconstituiu a memória das palavras de ordem e mensagens anotadas pelas mulheres nos cartazes e faixas. Em cartaz carregado por Sandra Starling, estava lá o slogan “QuemAmaNãoMata“, criado e divulgado no período de organização do Ato Público de 18 de agosto de 1980, no adro da Igreja São José. Personagem marcante da política e do feminismo mineiro, Starling foi uma das fundadoras do PT e, posteriormente, ficou bem conhecida fora dos muros acadêmicos por ter se tornado deputada estadual e federal com muitos vínculos com sua comunidade belorizontina – faleceu em 15 de dezembro de 2021. Outra liderança histórica do feminismo aparece nas fotos da manifestação: a cientista política e pesquisadora da UFMG, Profa. Dra. Celina Albano (10), já então tendo deixado nas mãos da socióloga Bila Sorj (11) a presidência do CDM – Centro de Defesa dos Direitos da Mulher, criado logo após o ato público de 1980.

Muitas destas manifestantes atuavam como voluntárias em trabalhos de atendimento a mulheres em situação de violência no chamado SOS-Mulher (12) ou como estagiárias da primeira pesquisa sobre o tema realizada em Minas, por iniciativa do CDM (Centro de Defesa dos Direitos da Mulher). Esse era o caso, por exemplo, de Eliana Stefani, graduada em comunicação e, à época, estudante do mestrado de Ciências Sociais na Fafich-UFMG. À frente do cortejo, Eliana Stefani segurava uma faixa anunciando o 8 de Março, juntamente com a estudante mexicana Maria Dalza. A manifestação também tinha o propósito de protestar contra o resultado brando da pena concedida a Marcio Stanciolli (13), que em 1980 havia assassinado a esposa, Eloísa Ballesteros (14).

 

Celina Albano, uma das lideranças na passeata
Sandra Starling leva o cartaz do slogan. Dirlene Marques está a seu lado.

Ao rever essas fotos antigas empunhando sua lupa,  Pinheiro diz que dessa maneira pode “localizar os textos de faixas e cartazes presentes a esta manifestação”. Muitos dos conteúdos encontrados ali vinculam os desejos das manifestantes de Minas ao que mulheres em toda a América Latina e, em alguns casos, em várias regiões do mundo, reivindicavam em 1983:

  • Queremos mais e melhores creches;
  • Pelo direito ao trabalho e pela garantia de creches;
  • Basta de violência contra as mulheres;
  • Estupro de menores/não calaremos;
  • Queremos um mundo que nos convém;
  • Por um trabalho doméstico compartilhado;
  • Silêncio é cúmplice da violência;
  • Mulheres pelo socialismo;
  • Poder dos homens; silêncio das mulheres;
  • Não aceitaremos o ônus da crise e da violência;
  • Salário igual para trabalho igual;
  • Liberdade é mulher/ lute por ela;
  • Nem santa/ nem prostitutas/ mulheres;
  • Nosso corpo/nós decidimos;
  • Mais postos de saúde;
  • Pela legalização do aborto.


Importante assinalar que essas agendas seguem tão atuais quanto antes, mesmo tendo se passado mais de 36 anos do evento. “A concentração para a passeata foi na entrada principal do Parque Municipal de Belo Horizonte, em frente ao Automóvel Clube“, finalizou Pinheiro, que gentilmente cedeu para o Vermelho Carmim essas imagens de sua autoria.

Cartazes com as reivindicações das militantes

NOTAS

(1) Marcelo Pinheiro Martins – Fotógrafo profissional graduado em Comunicação Social e em História. No momento da passeata, era estudante universitário na UFMG.

(2) Seminário feminista – Organizado no Ano Internacional da Mulher, 1975, por pequeno grupo de universitárias/ativistas de Belo Horizonte, o seminário “Mulher Brasileira em Debate” reuniu em novembro daquele ano, por três dias, em um auditório lotado da sede do DCE –UFMG (Diretório Central de Estudantes), a fina flor da liderança feminista tupiniquim. A partir desse evento, o grupo de jovens feministas ganhou notoriedade e musculatura para discutir o assunto em outras ações.

(3) Ato público de 1980 – Em 18 de agosto de 1980, aquele mesmo grupo do seminário de 1975 novamente se une a outras mulheres, muitas professoras e pesquisadoras do Departamento de Ciência Política da UFMG, e protestam contra o assassinato de mulheres por seus maridos. Ganhava força naquele período  a tese da “legítima defesa da honra” em que os assassinos, quando não saiam totalmente livres, ganhavam penas leves. Ali surge o slogan “QuemAmaNãoMata” e o ato se desdobra na criação do CDM (Centro de Defesa dos Direitos da Mulher) e no SOS-Mulher MG.

(4) Centro de Defesa dos Direitos da Mulher (CDM) – Organização criada em agosto de 1980, em BH, logo após o ato público em que as mulheres repudiavam o assassinato de esposas por seus maridos. De início o CDM ficou abrigado em sala cedida pela direção da Faculdade de Direito da UFMG, por solicitação das advogadas Fernanda Collás Arantes e Elizabeth Mariano de Almeida (ambas deste movimento).Em sua segunda fase, entre 1982 e 1984, funcionou na rua São Paulo, em Belo Horizonte, com apoio financeiro da Fundação Ford.

(5) Sandra Meira Starling (1944-2021) – Graduada em Direito (UFMG,1972); mestre em Ciência Política (UFMG,1984). Teve longa carreira como professora universitária junto à Faculdade de Direito da UFMG (ensinava Direito Civil) e junto à PUC-Minas, e ainda como parlamentar do Partido dos Trabalhadores. Nas eleições de 1982, foi a primeira mulher mineira a se candidatar ao cargo de governadora do Estado; não foi eleita. No ano da passeata, 1983, Sandra Starling fechava o último período de seu mestrado em Ciência Política na UFMG, orientada pelo prof. Fábio Wanderley Reis, e dava aulas na graduação. Elege-se em 1986 ao cargo de deputada estadual pelo PT, onde fica de 1987 a 1990. Nove anos depois daquela manifestação em 1983, já estava na Câmara Federal e presidiu a primeira Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a Violência contra a Mulher (foi deputada federal de1991 a 1998). Foi também secretária executiva do Ministério do Trabalho na primeira gestão do governo Lula, junto ao então ministro, Jaques Wagner. Sandra faleceu em 2021.

(6) Maria Dirlene Trindade Marques (1946- ) – Economista por formação, à época da passeata (1983) era mestranda de Celina Albano no Departamento de Ciência Política da Fafich. Na UFMG, além de lecionar, criou o Nepem (Núcleo de Pesquisa Sobre a Mulher). Foi profa. de História Política e Social na Escola de Serviço Social – PUC Minas, coordenadora do Curso de Educação, Pobreza e Desigualdade Social da UFMG e professora de pós-graduação da Faculdade de Direito Milton Campos. Ocupou diversos cargos na administração pública e organizações associativas. Atuou como professora universitária por mais de 35 anos e, após se aposentar, segue atuando na política e no movimento feminista.

(8) Maria Celina Pinto Albano (1944-) – Graduada em Sociologia e Política pela Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG (1967); Doutora em Sociologia pela University of Manchester, Inglaterra (1980). Desde 1995 é aposentada, como Professora Adjunta, da UFMG, onde começou a ensinar em 1970. Foi uma das líderes, em 1980, do ato público das mineiras contra violência e da criação do CDM (Centro de Defesa dos Direitos da Mulher). Na organização da passeata do 8 de Março de 1983, Celina era professora na pós-graduação do Departamento de Sociologia e Antropologia da UFMG e presidia o CDM numa gestão colegiada.  Entre 1987 – 1988 foi Diretora Técnica junto ao Conselho Nacional da Mulher, em Brasília.  Ocupou diversos cargos públicos de 1991 até 2005 – p.ex. de 1991 a 1994 foi Secretária de Cultura na Prefeitura Municipal de Belo Horizonte; entre 2001 e 2007 foi assessora especial da Prefeitura Municipal de Ouro Preto nas áreas de Turismo, Cultura, Meio ambiente, Patrimônio e Desenvolvimento Urbano.

(9) Segunda onda do feminismo – No ano de 1968, a feminista Martha Weinman Lear escreveu um pequeno artigo em um famoso jornal dos Estados Unidos (New York Times) com o título “A segunda onda feminista”. No texto,  Lear fazia referência à luta de milhares de mulheres pelo direito de votar, no final do século XIX e início do XX, como uma espécie de 1ª onda de feminismo e anunciava que outra havia se formado ou estava em formação. Crescia assim a chamada “segunda onda”, iniciada no pós-guerra, quando os países centrais se engajavam em campanhas para fazer com que mulheres envolvidas em trabalhos ditos ”masculinos” retornassem à vida doméstica, visto que “os rapazes” tinham retornado da II Grande Guerra. Um importante jornal da França noticiou:  “Por toda a Europa e de maneira simultânea, por mais de dois anos, na Inglaterra, Holanda, Suécia, Dinamarca, Alemamha, França e agora na Itália, grupos de mulheres se formaram espontaneamente para pensar em maneiras de lutar contra a sua opressão” (La Liberation, 1970).  Algumas décadas depois, Rebecca Walker (1992) publicou o ensaio “Tornando-se a terceira onda”, no qual defendia que as lutas feministas estavam longe de acabar e comprometia-se em seguir com elas. A metáfora das ondas consolidou-se, então, como forma de nomear momentos de grande mobilização feminista ( Zirbel, Ilze, 2021. In: https://www.blogs.unicamp.br/mulheresnafilosofia/wp-content/uploads/sites/178/2021/03/Ondas-do-Feminismo.pdf )  .

(11) Bila Sorj (1950 –  ), reconhecida socióloga brasileira, professora e pesquisadora do Departamento de Sociologia da UFRJ. Foi atuante na criação e funcionamento em Minas do CDM (Centro de Defesa dos Direitos da Mulher), que chegou a presidir entre 1982 e 1983.

(12) SOS–Mulher – Funcionava inicialmente (entre 1980 e 1982) em sala cedida pela Faculdade de Direito da UFMG. Primeira realização concreta do CDM (Centro de Defesa dos Direitos da Mulher), foi criado por iniciativa de um grupo de feministas mineiras, uma semana após o ato de repúdio de 18.08 de 1980, realizado nas escadarias da Igreja São José contra crimes de feminicídio ocorridos em Belo Horizonte naquele período. Durante a organização desse ato surge o slogan “QuemAmaNãoMata”.

(13) – A jornalista Malu Baldoni, àquela época na TV Bandeirantes, fez cobertura como repórter.

(14) – A fotógrafa Mana Coelho estava presente, cobrindo a passeata pela sucursal do o extinto Jornal do Brasil ou JB.

Integrantes do “Quem Ama Não Mata”

 

ARTIGO – No curso dos rios e das leis: a luta por políticas públicas

de enfrentamento da violência contra a mulher

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Neste artigo, fazemos um resgate da verdadeira origem do Movimento Quem Ama Não Mata, de Minas, que desempenhou no país papel relevante e precursor no enfrentamento aos assassinatos de mulheres. Ao mesmo tempo, vinculamos o impacto por movimentos feministas, tais como este, à construção de politicas para mulheres nas três esferas de governo, mostrando que a estratégia de criação de leis brasileiras do-tando as mulheres de direitos e respectiva cidadania foi estratégia criada (também com ajuda de juristas brasileiras) na esfera internacional. Discutimos ainda que requisitos são exigidos para que demandas sociais se ornem políticas públicas e produzam de fato as mudanças propostas em leis. Por fim, apontamos a importância das mudanças nos hábitos e costumes, noção de moral coletiva que irá de fato legitimar as conquistas legais e seus desdobramentos na vida social. (…)

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